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  • Foto do escritorJúlia Barbosa

Pode chegar, freguês!

Atualizado: 12 de jul. de 2019

As durezas e alegrias do ser feirante na capital goiana


Feira da Vila União. Goiânia, 2019. Foto: Júlia Barbosa

No meio de tantas cores, cheiros e sabores, lá vai mais um freguês, sem jeito com suas sacolas, andando em meio as tantas barracas, com olhos perdidos e ouvidos desnorteados, mas atentos a cada banca que o cerca. Passa pelos corredores, experimenta os tipos de tempeiro e escolhe as verduras enquanto espera ficarem prontos seu pastel e caldo de cana.


De frutas e verduras à roupas e calçados. Não há espaço com mais variedade do que uma boa e velha feira. Um lugar em que a farinha é medida pelo litro, a banana é pela dúzia e o afeto, pelas conversas demoradas enquanto o café está sendo moído. As feiras, cada qual em sua praça, beco ou avenida, mantêm culturas e tradições vivas. Ocupam, as vezes silenciosas e despercebidas pelo acostumar da cidade, grandes espaços, tanto geográficos, quanto nas memórias.


Imagens: Júlia Barbosa


Sem 'paz e amor' na Feira Hippie


Essa ocupação passa por diversos enfrentamentos, não só na fundação das feiras, mas também pela sua manutenção no espaço. Esse é o impasse enfrentado pelos vendedores da Feira Hippie, que existe há 48 anos e conta com quase 6.000 feirantes, que estão sendo realocados devido a reforma na Praça do Trabalhador, onde se localiza a feira.


A principal solicitação dos feirantes é a garantia de um espaço alternativo, durante os cinco meses previstos para a realização da obra, que comporte todos os trabalhadores. Assim como o retorno, após a reforma, da Feira Hippie para a Praça. "A Feira Hippie não aceita nenhum tipo de intervenção da prefeitura, sem antes termos um acordo assinado, sem sabermos para onde iremos", afirma o presidente da Associação dos Feirantes da Feira Hippie, Waldivino da Silva.




Banquinha de histórias


Vindo do Maranhão com decepções na bagagem, Antônia dos Santos começou a vida como lavradora e quebradora de coco. As dificuldades não davam sossego, tendo que criar quatro filhas, e por isso dividia seu tempo, também, em salas de aula. Nada parecia ser suficiente, e assim começou o trabalho como feirante. Chegando em Goiânia, encontrou, novamente nas feiras, o sustento que procurava.

"Pra fazer feira precisa de muita coragem. Tem muito sacrifício, não é nada simples. Mas a gente enfrenta"

Feira da Vila União. Goiânia, 2019. Foto: Júlia Barbosa

Montando e desmontando sua barraquinha de torresmo e cachaça há vinte e nove anos, Maria de Fátima não nega um sorriso aos clientes. Durante os anos de feira, acompanha e faz parte das histórias da clientela e dos vizinhos de barraca. Se a feira já não é silenciosa por si só, aos arredores da sua banca é que não há silêncio algum.


O ambiente das feiras, as conversas, os cheiros e as companhias a ajudam a superar dificuldades bem mais fortes que as chuvas que derrubam a lona das barracas, como a morte do marido, há cinco anos. "O dia que eu não venho, as pessoas dizem que a feira não presta. Tudo que eu tenho depende da feira. Enfrento muita coisa, mas sou feliz demais sendo feirante, porque faço o que eu gosto", finaliza.


"A necessidade te obriga a começar a fazer as coisas. Mas você passa a amar o que faz, se sente feliz trabalhando", afirma Dona Fátima. Foto: Júlia Barbosa


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